Diario, dia 18 - Bissau

A despedida do Martins foi difícil, ficámos de tal forma abalados que fomos afogar as nossas mágoas no bar da moda em Bissau. Ao ar livre com uma temperatura perfeita o serão foi passado na companhia de umas sagres geladas recordando as peripécias da viagem ao som de Lenny Kravitz e Bob Marley. A noite continuou com uma passagem por uma discoteca onde todos deram uns passinhos de Kisomba e Kuduro... A manhã chegou rápido e o ultimo dia com motos teria de ser bem aproveitado, a situação política parece cada vez mais tensa, os rádios falam que a amanhã serão anunciados pelo tribunal os candidatos que podem concorrer à Presidência. De Lisboa chegaram noticias que os telejornais já falam em revolução eminente, o Ministério dos negócios estrangeiros português desaconselha viagens para Bissau e segundo as autoridades portuguesas a Guiné é neste momento um barril de pólvora. Eu e o Casimiro resolvemos surpreender o resto do pessoal e saímos para comprar algo para o pequeno almoço. A cidade está com o seu ambiente relaxado normal, nem parece a mesma cidade descrita pelos noticiários em Lisboa. As pequenas bancas nas esquinas continuam a vender os amendoins e cajus de sempre, ao lado uma velhota vende ovos e bananas com muito bom aspecto, as crianças enchem as ruas a caminho da escola enfim tudo absolutamente calmo. O programa hoje passa por uma visita à praia mais perto de Bissau, uns 25 quilómetros a norte. O Zé vai connosco mesmo sem capacete, o João não pode ir, tem muito que fazer para desalfandegar os camiões para poder começar a trabalhar, há mais de um mês que todos os dias vai à alfândega tratar de burocracias. Passamos pelo mercado de Bandim logo na saída da cidade, o maior mercado da Guiné e pouco depois estamos de novo no meio do mato. O Zé está muito animado, é a primeira vez que sai da cidade, a picada é relativamente fácil e atravessa uma zona pantanosa na direcção de um cabo junto há foz de mais um rio. Aliás a Guiné é uma autentica manta de retalhos, a quantidade de rios é enorme e praticamente todas as regiões são penínsulas isoladas por rios enormes. A praia foi uma desilusão, a maré está cheia e a areia preta e cheia de nafta. Por aqui as leis ambientais devem ter pouco valor e as grandes companhias não se inibem em lavar os tanques dos seus enormes petroleiros. Já que a praia é impraticável resolvemos voltar á picada e conhecer a região, as enormes florestas de caju são aqui como em praticamente toda a Guiné a principal fonte de rendimento das famílias. O cheiro a caju é intenso e na frente de cada cubata uma bacia de madeira em forma de canoa serve para espremer o fruto e produzir o conhecido vinho de caju. Voltámos para Bissau e voltámos ao Café do Sr. Diniz, o nosso ponto de descanso de onde temos uma visão privilegiada da ritmo da cidade e da principal praça. Passam alguns carros militares, realmente temos reparado que o numero de militares na cidade aumentou mas não se vêm armas nem nenhum tipo de movimentação mais tensa. Tudo continua calmo. O Jantar desta vez foi no Papaloca, o restaurante do Benfica, conseguimos convencer mais uma vez o João a alterar a sua rotina, desde que chegou a Bissau que ia sempre almoçar e jantar ao mesmo restaurante. Este serão foi diferente, desde que estamos em Bissau é a primeira vez que temos agua e luz ao mesmo tempo ;-) o normal é não haver nem uma coisa nem outra especialmente agora que o gerador pifou. Aproveitámos para ver pela primeira vez as gravações vídeo que foram sendo feitas durante a viagem. Como nada dura para sempre ;-) passado duas horas lá se foi a luz. A solução é ir dormir que amanhã é dia de faina..... vamos ter de tratar dos documentos finais e arrumar as motos no contentor.

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