sexta-feira, abril 27, 2018

A Ilha do Cirne

Foi assim que a chamou Diogo Fernandes Pereira, o primeiro europeu a pisar as Maurícias em 1507. O marinheiro português não se demorou muito, fez um forte, colocou-a no mapa e seguiu caminho... um pouco como eu vou fazer 500 anos depois.

A ilha foi depois ocupada por holandeses, franceses e ingleses até conseguir a independência em 68. Toda a gente sabe que nenhum povo europeu gosta muito de vergar a mola, então todas estas nações colonizadoras trouxeram nativos das suas outras colónias para produzir a cana do açúcar que até hoje forra mais de metade da Ilha. O resultado desta mistura de escravos é um povo multi-cultural, multi-religioso, multi-étnico e multi-ligue que trouxe influência da Europa, Indonésia, Malásia, India e Africa continental.



Até hoje ainda não decidiram se a língua oficial é inglês  ou francês. Na indecisão acabam por sair a ganhar porque fazem parte da Commonwealth e da O.I Francófona... não são nada parvos! Quem me contou isto tudo foi o Michel que é o campeão de dominó e com o qual tive o prazer de perder, depois do primeiro mergulho no Indico.



Cheguei cedo, o quarto da guestshouse que reservei antes de embarcar ainda não está pronto. Não faz mal! Com este mar não preciso de quarto tão depressa :)



O recife em frente à guest-house surpreendeu-me, está saudável e cheio de peixe. Passo uma hora na água deslumbrado com a variedade de corais e os sempre coloridos peixes do Indico. Reenergizado volto a terra e parto a pé em busca de uma moto. Não tenho sorte, está tudo alugado, scooters, motos e carros, só sobraram bicicletas.



É numa delas que parto à descoberta da Blue Bay, uma enorme baía turquesa protegida por um recife ao largo, que refreia o ímpeto das ondas do Indico. As pedaladas não duram muito, a estrada termina nas pistas de areia fofa da reserva natural que delimita a baía. Volto para a praia onde compro umas frutas para almoçar. Ao meu lado duas francesas fazem o mesmo, meto conversa e pergunto se não querem partilhar um taxi para ir conhecer as montanhas. Não tenho sorte, é o ultimo dia delas e preferem ficar a torrar na praia.



Eu não sou muito de ficar a torrar, procuro um passeio de barco mas só há para os recifes ali perto e para chegar a esses não preciso de barco, vou a nado. Há outros para uma reserva marítima numa ilhota de coral mas sozinho é muito caro, o mesmo acontece com o taxi que custa 100 euros para uma volta pelas montanhas. Puxo da arte de comerciante que o meu pai me ensinou e consigo que baixe até 50 euros, bora!



A maior parte das paragens turísticas são daquelas de encher chouriços, templos Indus, miradouros para a foto postal e mercados de souvenirs chineses sem grande interesse. No topo da montanha as coisas mudam. Floresta tropical luxuriante estende-se por picos e vales profundos. Cascatas altas precipitam-se para o abismo, iluminadas por um sol forte que ainda consegue furar as nuvens cada vez mais negras. Afinal parece que a ilha tem mais interesse alem das praias e dos recifes.



Faço uma caminhada de uma hora mas soube a pouco, quanto mais avanço mais interessante fica, vejo macacos, mais cascatas e finalmente a grande Black River Gorge em toda a sua impressionante dimensão. Estou no ponto mais alto da ilha. 



Mas foi literalmente sol de pouca dura, as nuvens adensam-se, o céu fica negro e começa a chover torrencialmente. Típico dos trópicos penso eu. Gosto de ver a chuva forte tropical, é uma demonstração de natureza impressionante. Os coqueiros agarram-se com unhas e dentes para não serem arrancados pelas violentas rajadas, os recifes ao largo seguram as ondas gigantes enquanto a baía mantém as suas cores mas agora com aguas opacas e leitosas.



Afinal é mesmo um ciclone e chama-se Fakir. Passou na ilha de Reunião onde parece que fez estragos e segue agora para a parte norte das Maurícias. Eu tenho voo marcado e sigo para o aeroporto, provavelmente não há voos mas só lá consigo noticias. O voo foi mesmo cancelado junto com todos os previstos para aquela manhã, dizem que talvez de noite ou amanhã... não tenho pressa, logo se vê.

1 comentário:

  1. Portugal teve o forte na ilha? Sabe mais alguma informação sobre o mesmo? Bom artigo!

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