A rainha faz anos.

Londres sempre foi uma caixinha de surpresas e desta vez não foi diferente. Afinal não é todos os dias que se acaba num quarto com 5 mulheres, uma das quais profissional de dança no varão...



Mas calma, nada de confusões! Tudo começou porque marquei uma cama num hostel em vez de um quarto num hotel. Os hostels são sempre bons locais para conhecer pessoas e uma excelente opção quando se viaja sozinho. Além de muito mais baratos servem bem o propósito de quem quer só uma cama confortável para dormir depois de passar o dia a viajar ou a explorar uma cidade.
Não esperava é me me colocassem num quarto misto. Não me estou a queixar, foi até bem mais agradável do que partilhar o quarto com backpackers que só tomam banho quando a rainha faz anos... e hoje, coincidência das coincidências a rainha faz mesmo anos. 92 mais precisamente.



Em resultado disso a cidade esta um caos, centenas de policias armados, barreiras anti veículos e ruas cortadas deixam bem claro que Londres não esqueceu os atentados recentes. Alem do aniversário da rainha também acontece a maratona de Londres e se umas ruas não estão cortadas por uma razão, as restantes estão pela outra.

Eu cheguei cedo, dei uma espreitadela à Tate, visitei umas lojas de fotografia velhas conhecidas na Oxford, almocei uns morangos no Hyde Park e tinha planos de visitar a Royal Geographical Society antes de chegar ao hostel. Este é daqueles lugares que não faz parte dos roteiros turisticos habituais, mas daqui partiram exploradores notáveis como DarwinLivingstoneStanleyScottShackletonHunt e Edmund Hillary.



Está um dia estranhamente solarengo para Londres, nem uma nuvem no céu e 22 graus que me castigaram enquanto pedalei estas voltas todas numa daquelas bicicletas de aluguer com a mochila às costas. Preciso de um banho... afinal de contas a rainha faz anos :)

Chego finalmente ao hostal e enquanto me preparo para o duche oiço um barulho e reparo que não estou sozinho no quarto. A Anitta, uma simpática e cansada moça húngara, descansa no topo de um treliche depois de um dia a caminhar por toda a cidade. Quando volto do duche a coitada da Anitta já dorme.



Eu saio para jantar no famoso Ace Café nos arrabaldes da segunda circular lá da zona.
O famoso Ace Café ainda tem aquela energia dos anos 40 e 60 quando era o ponto de encontro dos motociclistas rockers e racers de Londres. Vale a pena ficar a conhecer a historia deste marco motociclistico, mas não vão com excesso de expectativas :) O espaço é muito semelhante a um tipico café americano vintage com alguns toques british. Grande parte da comida é fast food. Comida boa, saborosa, caseira, mas fast food. Já a cerveja é grande, consistente e lenta...como deve ser uma Guiness no ponto :)



Uma loja de merchandising ajuda a fazer crescer a marca Ace Cafe que ja tem lojas em Orlando, Barcelona e... Pequim. Enfim é daqueles lugares icónicos que temos de visitar, mas uma vez deve chegar. Oxalá nao se torne uma espécie de Hard Rock Cafe e perca a alma que o tornou conhecido.



Volto para o hostal e o quarto ja está cheio, nao de gente mas de roupas, sapatos e maquiagem de duas teenagers inglesas que pelos vistos usam o hostal como camarim para as sua saidas de sabado à noite. Desço novamente, as miúdas precisam de privacidade e eu nao tenho sono. Na suposta sala de convicio do hostal ninguem convive... está todo agarrado ao Netflix que passa numa tela gigante. Isto dos hostels está mesmo mudado! Felizmente ao lado do hostal fica o Bar 190, um conhecido point onde vários musicos britanicos conviviam e muito nos loucos anos 60. Entre eles os jovens Rolling Stones que aqui apresentaram o seu album Beggars Banquet em 68. Termino a primeira noite da viagem a beber um gin no mesmo sofa onde o Sr Jagger e a sua gang devem ter tomado muitos. 



Sou o primeiro a acordar no quarto, dormi que nem um anjo e nem dei conta que entretanto chegaram mais vizinhos, 3 rapazes e 5 raparigas espalhados por beliches triplos. Fujo para o duche e preparo a mochila rapidamente para nao acordar ninguem. A Anitta aparece no pequeno almoço e simpaticamente faz-me companhia. Ficamos à conversa, é a sua primeira visita a Londres, trabalha como engenheira informática em Budapeste, é professora de pole dance e tambem tem voo as 6 da tarde como eu. Decidimos sair juntos e fugir para a outra margem do Tamisa onde não há maratona nem tanta confusão,  ela quer ir à torre de Londres e eu à Tate Modern e fica tudo a caminho. 



Foi um excelente dia, nem eu fui à Tate nem ela foi à Torre mas pedalámos imenso, conversámos mais ainda e desfrutámos do raro sol londrino num piquenique descontraido junto ao rio. Trocamos telefones e despedimo-nos com promessas de visitas a Budapeste e a Lisboa. 


Isto é uma  das coisas que as viagens tem de melhor, as amizades simples e desinteressadas que ganhamos pelo caminho. Foi um bom inicio de viagem, agora vamos lá enfrentar um voo de 12 horas...

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