domingo, maio 06, 2018

A culpa é da lua cheia!

A minha sorte nestas coisas não mudou. O guia é coxo e o spotter é maneta, não estou a brincar... está aqui uma bela equipa para ir à caça de Lémures nas montanhas do Parque Natural de Ranomafana.




 O spotter, que supostamente vai na frente de catana na mão a abrir caminho, não tem o braço direito e o guia tinha um problema qualquer na perna que o fazia subir e descer degraus com bastante dificuldade. Mas não fica por aqui, o guia devia estar com problemas familiares e passou metade do tempo a ver se tinha rede de telemóvel para falar com a mulher. Quando conseguia ligação, só se ouvia ela a mandar vir  com ele aos berros do outro lado... acho que o coxo andou a saltar a cerca :)




No briefing inicial ele, como qualquer guia profissional, baixou as minhas expectativas. Ah e tal ontem foi lua cheia... se calhar os Lémures estão cansados porque são muito ativos em noites de lua cheia... talvez seja difícil ver algum... ok pá já percebi, a lua cheia é tramada  amigo lol, não te preocupes, não fico chateado contigo se só virmos floresta.




E que floresta, diferente de qualquer outra que já vi. Mais aberta e espaçada que a floresta tropical “normal”. Esta deixa a luz chegar até ao chão e o resultado são flores incrivelmente coloridas e exóticas, grande parte só existe aqui mesmo, nestas agrestes montanhas. Entre uma e outra chamada da mulher o guia lá me ia dizendo que aqui acontece o oposto da África  continental, onde os animais são grandes e imponentes. Aqui temos de olhar os pormenores, como esta micro orquídea ou este escaravelho girafa, ambos endémicos de Madagáscar.




Estava eu a pensar que com tanto barulho até os Lémures já deviam estar a milhas com medo da mulher do guia, quando o spotter me vem buscar e me leva mata dentro fora do trilho. Lá estão eles, maiores do que imaginava, empoleirados nos ramos a saltar de copa em copa à procura das mais saborosas guiavas. São peludos, pelo grosso e suave, como bichos de peluche de carne e osso. 




Ao longo da manhã vejo quatro espécies distintas de Lémures. Dos famosos anelados a preto e branco, aos enormes e pesados Golden Bamboo Lémure. Pelo caminho vários camaleões e insectos de formas absurdas, confirmam o exotismo que tornam as florestas desta ilha tão misteriosas. Tudo por aqui é realmente diferente, até plantas comuns como o café selvagem ou o gengibre da floresta assumem cores e formas caprichosamente diferentes. Por ter crescido no meio dos lotes de café do meu pai, tenho uma curiosidade natural com a planta e as espécies de café e aposto que nem ele sabia que havia uma espécie especifica daqui que quando madura fica com as bagas azuis.




Já no regresso o guia finalmente consegue acalmar a mulher, oiço risos do lado de lá... fico feliz por ele. Deve-se ter desculpado com a lua cheia :) 

Eu volto ao hotel, tomo um duche, um café e sigo viagem para a costa este. Ainda tenho 4 horas de luz, mais do que suficiente para chegar a tempo de um mergulho nas areias de Manakara. Pelo caminho tenho provavelmente a mais bela estrada de Madagáscar  e umas das mais bonitas que fiz... e já fiz algumas :)




Uma serpente cinza que percorre vales profundos, abertos por rios revoltos, e que contorna montanhas cobertas de floresta com picos de basalto polido pela erosão de milhões de anos. Pouco a pouco abrem-se horizontes de savana verde, bonita, com montanhas mais baixas e separadas por vales de palmeiras de aspecto  jurássico. Jurassic Park, é isso! Ou foi filmado aqui ou inspirado neste lugar, as paisagens são incrivelmente parecidas. Só faltam os Raptors a correr pela erva alta.




As pessoas também mudam, são aparentemente mais pobres que no planalto central, andam descalças, vivem em cabanas de madeira e bamboo com telhados de junco. Em contrapartida têm bastante mais que apenas arroz, a floresta dá-lhes uma quantidade e variedade de fruta tal que deixaria qualquer frutaria roxa de inveja. O sorriso continua o mesmo, o sorriso e os carros de madeira que ajudam a transportar tudo empurram-se nas subidas, vai-se à boleia nas decidas. Alguns são bastante completos e detalhados.






Chego a Manakara a tempo de mergulho e de uma cerveja com um motociclista francês que chegou pouco antes de mim. 




Escolhemos o mesmo hotel, o único da cidade em frente ao mar e provavelmente o melhor da região. Nada mau para os 15 euros que custa :) Agora é só encomendar a lagosta,  algures que faz muito bem ao intestino solto lol






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