Em vez de acordar amarrotado depois de um voo de 12 horas até ao Bornéu como tinha planeado acordei numa cama da uci do Hospital  dos Lusiadas em lisboa com a cabeça decorada com 48 agrafos e inchada como uma melancia. Um inesperado Acidente vascular cerebral surpreendeu-me no ginásio onde ironicamente procurava começar a levar uma vida mais regrada e saudável, duas cirurgias e uma semana de coma  depois acordo com acabeça do tamanho de uma melanciao  e o lado esquerdo do meu corpo dormente e sem quererer responder às minhas ordens. A bela e modesta honda Xr 125 que tinha comprado no OLx das Filipinas paraviajar por este arquipélago de uma ponta à outra vai ter de ficar parada mais uns meses.Algumas horas depois e o AVC teria acontecido no voo ou já em Manila. Enfim É bom lembrarmo-nos que pouco ou nada mandamos na nossa vida e que de um segundo ara o outro ela pode virar de cabeça para baixo sem que possamos fazer nada. Por isso aproveitem bem  enquanto podem e têm saúde, porque a qualquer momento tudo pode mudar. É bom tambem procurarprocurarar ver sempre o lado positivo das coisas menos boas. Se o AVC hemorragico tivesse acontecido no voo ou em Manila provávelmente não estaria aqui a escrever. portanto dentro do azar até que tive sorte....

Quem me é mais próximo sabe qu o ano de 2017 foi um ano muito dificil, perdi tudo o que tinha, e não falo do plano material, antes falá-se... falo do plano emocional e familiar onde a minha vida se virou do avesso com a partida da minha namorada e do meu melhor amigo. Passei o ano de 2018 a lamber as feridas e a tentar recuperar acapacidade de acreditar que ainda havia um futuro feliz pra mim depois do tsunami de 2017. UMa das estratégias foi meter mãos à obra na recuperação de um veleiro e eplorar o meu sonho antigo de velejar por esse mundo afora. Foram 6 meses de muito trabalho num estaleiro no Seixal até o Noé voltar a nadar. A cabeça ficava ocupada e o corpo cansado com as tarefas, a estratégia foi uma boa decisão, demorou mas compensou. o Noé passou a ser o meu poiso favorito e nele viajava para longe mesmo sem sair do estaleiro no Seiixal, nele re- aprendi a dar valor ao tempo e à simplicidade da vida. ó Noé pretendia ser uma homenagem ao meu grrande amigo de 4 patas mas infelizmente o nome não foi aceite pela capitania de Cascais e tive de alterar para a versão inglesa Noah.

Paragem Forçada

Posted by : Carlos Azevedo
quarta-feira, junho 19, 2019
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A minha sorte nestas coisas não mudou. O guia é coxo e o spotter é maneta, não estou a brincar... está aqui uma bela equipa para ir à caça de Lémures nas montanhas do Parque Natural de Ranomafana.




 O spotter, que supostamente vai na frente de catana na mão a abrir caminho, não tem o braço direito e o guia tinha um problema qualquer na perna que o fazia subir e descer degraus com bastante dificuldade. Mas não fica por aqui, o guia devia estar com problemas familiares e passou metade do tempo a ver se tinha rede de telemóvel para falar com a mulher. Quando conseguia ligação, só se ouvia ela a mandar vir  com ele aos berros do outro lado... acho que o coxo andou a saltar a cerca :)




No briefing inicial ele, como qualquer guia profissional, baixou as minhas expectativas. Ah e tal ontem foi lua cheia... se calhar os Lémures estão cansados porque são muito ativos em noites de lua cheia... talvez seja difícil ver algum... ok pá já percebi, a lua cheia é tramada  amigo lol, não te preocupes, não fico chateado contigo se só virmos floresta.




E que floresta, diferente de qualquer outra que já vi. Mais aberta e espaçada que a floresta tropical “normal”. Esta deixa a luz chegar até ao chão e o resultado são flores incrivelmente coloridas e exóticas, grande parte só existe aqui mesmo, nestas agrestes montanhas. Entre uma e outra chamada da mulher o guia lá me ia dizendo que aqui acontece o oposto da África  continental, onde os animais são grandes e imponentes. Aqui temos de olhar os pormenores, como esta micro orquídea ou este escaravelho girafa, ambos endémicos de Madagáscar.




Estava eu a pensar que com tanto barulho até os Lémures já deviam estar a milhas com medo da mulher do guia, quando o spotter me vem buscar e me leva mata dentro fora do trilho. Lá estão eles, maiores do que imaginava, empoleirados nos ramos a saltar de copa em copa à procura das mais saborosas guiavas. São peludos, pelo grosso e suave, como bichos de peluche de carne e osso. 




Ao longo da manhã vejo quatro espécies distintas de Lémures. Dos famosos anelados a preto e branco, aos enormes e pesados Golden Bamboo Lémure. Pelo caminho vários camaleões e insectos de formas absurdas, confirmam o exotismo que tornam as florestas desta ilha tão misteriosas. Tudo por aqui é realmente diferente, até plantas comuns como o café selvagem ou o gengibre da floresta assumem cores e formas caprichosamente diferentes. Por ter crescido no meio dos lotes de café do meu pai, tenho uma curiosidade natural com a planta e as espécies de café e aposto que nem ele sabia que havia uma espécie especifica daqui que quando madura fica com as bagas azuis.




Já no regresso o guia finalmente consegue acalmar a mulher, oiço risos do lado de lá... fico feliz por ele. Deve-se ter desculpado com a lua cheia :) 

Eu volto ao hotel, tomo um duche, um café e sigo viagem para a costa este. Ainda tenho 4 horas de luz, mais do que suficiente para chegar a tempo de um mergulho nas areias de Manakara. Pelo caminho tenho provavelmente a mais bela estrada de Madagáscar  e umas das mais bonitas que fiz... e já fiz algumas :)




Uma serpente cinza que percorre vales profundos, abertos por rios revoltos, e que contorna montanhas cobertas de floresta com picos de basalto polido pela erosão de milhões de anos. Pouco a pouco abrem-se horizontes de savana verde, bonita, com montanhas mais baixas e separadas por vales de palmeiras de aspecto  jurássico. Jurassic Park, é isso! Ou foi filmado aqui ou inspirado neste lugar, as paisagens são incrivelmente parecidas. Só faltam os Raptors a correr pela erva alta.




As pessoas também mudam, são aparentemente mais pobres que no planalto central, andam descalças, vivem em cabanas de madeira e bamboo com telhados de junco. Em contrapartida têm bastante mais que apenas arroz, a floresta dá-lhes uma quantidade e variedade de fruta tal que deixaria qualquer frutaria roxa de inveja. O sorriso continua o mesmo, o sorriso e os carros de madeira que ajudam a transportar tudo empurram-se nas subidas, vai-se à boleia nas decidas. Alguns são bastante completos e detalhados.






Chego a Manakara a tempo de mergulho e de uma cerveja com um motociclista francês que chegou pouco antes de mim. 




Escolhemos o mesmo hotel, o único da cidade em frente ao mar e provavelmente o melhor da região. Nada mau para os 15 euros que custa :) Agora é só encomendar a lagosta,  algures que faz muito bem ao intestino solto lol






A culpa é da lua cheia!

Posted by : Carlos Azevedo
domingo, maio 06, 2018
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Boa viagem em Malagasy. Aliás, sabiam que as origens desta lingua e dos primeiros nativos remonta às ilhas do Pacifico? Eu não, mas fiquei a saber e não foi graças ao meu Lonely Planet que ficou algures no meio da pista das montanhas de Ranomafana,  foi graças a um longo jantar com o Gabriel, um italiano que vive aqui há quase 30 anos.




De facto as pessoas das montanhas têm muita semelhança fisionómica com o povo da Polinésia, aqueles olhos puxados, côr caramelo e um sorriso lindo. Já na costa percebe-se uma maior influência da Africa continental, mais escuros, com olhos redondos mas com o mesmo sorriso aberto sempre pronto a nos receber. Ambos têm uma característica que devia ser mais praticada no resto do mundo... olham bem nos olhos. Quando passo de moto as pessoas acenam e sorriem mas não olham para a moto, olham-me nos olhos. Gosto disso!!



Talvez seja do capacete aberto ou da barba desgrenhada, mas seja como for o olhar deles provoca logo um ligação forte, um conforto instantâneo que nos deixa logo com vontade de parar e conversar... especialmente se houver chamuças por perto. Ai as chamuças, são a minha perdição, quanto mais tipos provo mais gosto, são de longe as melhores que já provei.



Mas não são só as chamuças, a comida por aqui é muito boa, o peixe grelhado, o camarão, a fruta, os tomates... até os zebus são saborosos. Só o pão é que não é grande coisa, mas ainda bem, pão engorda ;) Gosto de provar tudo e normalmente o intestino não se queixa, mas acho que há dois dias abusei. Desde então que tenho de fazer mais paragem técnicas do que o habitual :)



Não me parece nada sério e olhando pelo lado positivo, até foi bom.  Baixei o ritmo, paro mais vezes e com mais tempo para melhor apreciar as belas paisagens que me envolvem. Agora em vez de fazer 200kms em 4 horas, faço 250 num dia inteiro. Prefiro ver menos e bem do que tentar visitar tudo e só ver de raspão. Além disso já fiquei 2 dias parado porque simplesmente me apeteceu. Gostei tanto de Morondava e das montanhas de Ranomafana que decidi ficar mais uma noite.



Apesar de ter baixado o ritmo já percorri 3 regiões completamente distintas em termos de paisagem. A cordilheira com picos de mais de 2600 metros que corta a ilha ao meio, de norte para sul, funciona como uma muralha que segura os ventos húmidos do indico a Este. O resultado são florestas tropicais de um lado, savana tipicamente africana do outro e uma espécie de clima mediterrâneo no planato do topo. Na verdade nada é típico por aqui, a savana em vez de acácias e erva alta e seca como no continente, tem palmeiras com formas estranhas, oásis de aspecto  jurássico e pântanos, muitos pântanos. Até os famosos baobás  têm o seu estilo pessoal, altos, impressionantemente  altos e elegantes, exibindo uma imponência ainda maior do que os irmãos do continente. 



No topo da cordilheira, onde ficam as mais importantes cidades e por onde serpenteia a única estrada asfaltada que liga toda a ilha de Norte a Sul, sente-se bem a influência humana. Há muito que as florestas foram cortadas e o terreno foi dominado pela agricultura. Quase não há árvores, mas os viçosos campos de arroz, cuidadosamente escavados em socalcos e enquadrados pelos picos de pedra nua das montanhas, dão um ar extraordinariamente harmonioso à paisagem. Talvez essa é a razão que levou a Unesco  a  classificar este maciço montanhoso como património da humanidade.



Já na floresta que cobre o lado Este da cordilheira, o que se destaca são os vales estreitos abertos por rios violentos que descem dos 2000 aos 20 metros de altitude em pouco menos de 50 kms. Quase que dá para ver Lémures de uma encosta para a outra de tão estreitos que são os vales.



Para chegar à entrada do Parque natural de Ranomafana, precisamente do lado Este da Cordilheira, saí do asfalto esburacado e decidi descer a montanha arriscando um atalho por pista. Eu sei, ideia parva não é....  primeiro porque a suspensão da Transalp já mostra o desgaste da sua idade e deve ter aí uns 4 cms de curso, segundo porque o condutor também já não é novo e chegou cheio de dor de rins de tentar andar de pé numa moto tão baixinha, terceiro porque tantos solavancos fizeram com que o guia lonely planet que tinha no bolso das calças caísse algures e quarto porque só um tipo meio parvo se mete sozinho a fazer pista no meio da selva africana, com pneus de ir ao morango, sem câmaras de ar suplentes e sem gps...



Sim, isto já foi aparentemente uma estrada e vem no mapa como “route non goudronnée” e não, ainda não comprei as câmaras de ar suplentes... Mas até nem foi mau de todo, dizem que Deus protege os audazes e também deve ter uma atenção especial com os parvos como eu, o certo é que chegámos, eu e a transalp, todos desconjuntados mas inteiros à entrada do Parque  Natural. O guia é o menos, mas lá dentro tinha os autocolantes do Ace Cafe que comprei para dar ao meu irmão e ao meu primo Nuno... agora vai algum Lémure ficar com eles.



É precisamente atrás dos famoso Lémures que vou amanhã , por isso chega de escrever e toca a dormir que já são quase 9 da noite :)

Soava dia

Posted by : Carlos Azevedo
quarta-feira, maio 02, 2018
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Grita a japonesinha virando a t-shirt e posando para uma foto na Allé des Baobabs. Ou ela está há muito tempo em viagem ou trocou-se nos verbos... lol



Estou há dois dias em Madagascar, o oitavo continente como lhe chamam. Finalmente e depois de muitos atrasos por causa do ciclone cheguei a Tana, diminutivo de Antananarivo para os mais íntimos. A história do ciclone rendeu, acabei por chegar já passava da meia noite mas em contrapartida não me cobraram a alteração do bilhete que me permite agora ficar duas noites na ilha de Reunião no regresso. Tentei fazer isto pela internet em Lisboa mas ficava mais cara que o bilhete, decidi deixar a decisão para depois, aqui no balcão da companhia aérea. Graças ao ciclone a alteração ficou a custo zero. 



Há minha espera tenho o Manfred e uma Transalp 600 de 86 com 226.310 quilómetros pronta  a enfrentar as estradas de Madagascar. Pronta... ou quase, nos primeiros 200 quilómetros perdeu quase todos os parafusos da carenagem, a embraiagem já viu melhores dias e não trava! vai abrandando... Mas ok, afinal de contas é uma japonesa das boas e vai aguentar com certeza! O Manfred como bom alemão é precavido, dá-me um litro de óleo, duas manetes, um jogo de ferramentas e um spray anti furo, “all set Carlos, ready to go!!”



All set o catano amigo, empresta lá dois desmontas e uma bomba de ar que eu não confio nessas latas anti furo. Ele emprestou os desmontas mas não tem câmaras de ar, sem problema, compro no caminho. 



Simpaticamente acompanha-me à saída da cidades, sao 25 quilómetros dentro de um mercado tipicamente africano. Comida, camiões, motos, bicicletas e milhares de pessoas parece que se movem organizadamente como um cardume de peixes. Eu já conheço a experiência mas demora sempre um pouco a apanhar o ritmo africano.



Finalmente em Africa! As Maurícias e Reunião até podem pertencer ao continente mãe mas há muito que perderam a energia africana. Aqui não! Aqui é Africa pura, com tudo o que isso tem de bom e de menos bom também. O primeiro dia de estrada é pra aclimatar a tudo, do calo do rolamento de direção aos buracos na estrada, do trânsito ao frio... Sim frio! A ilha tem como uma espinha dorsal. Uma mega cordilheira que se estende do Norte a Sul e onde ficam instaladas as maiores cidades. Antsirabe onde termino o primeiro dia fica a pouco mais de 2000 metros de altitude.



Pelo caminho chamou-me a atenção um sinal de um restaurante com aquele tipico sinal do boi com as cores espanholas. Paro e conheço o Xavier, um ex-missionário da Murcia que se apaixonou por uma local e se ficou por aqui. Já la vão 25 anos diz ele saudoso, “mas nao consigo voltar a Espanha, já tentei mas não me adapto! Isto é uma terra maravilhosa, gente boa e não nos matamos a trabalhar, temos tempo.” Eu vejo o meu tempo escassear, já passa das 3 da tarde, ainda faltam 100kms e ainda nem almocei. Peço umas tapas ao Xavier convencido que tem lá dentro uma reserva de presunto ou enchidos da Murcia... “te gusta ranas? Son grandes y buenas, aqui hay muchas!” Ok Xavier trás lá as rãs.



Estavam boas, assim como estava a conversa com o Xavier que conhece tudo nesta ilha continente, mas atrasei-me e chego mesmo no limite do lusco fusco. Não há luz na rua, só em casas e nas bancas de rua que vendem comida. Dizem que esta é uma das cidades onde se pode arranjar a logística para descer o rio Tsiribihina de piroga. São dois dias rio abaixo e parece boa ideia.



Não tenho sorte, sozinho fica absurdamente caro e não há grupos previstos para os próximos dias. Isto de viajar sozinho nem sempre é bom... Mas como o que não tem remédio remediado está, vamos acordar cedinho e descer o rio pela margem, na estrada que o acompanha até à costa do Canal de Moçambique.



É isso que faço no dia seguinte, já mais acostumado à moto e às estradas devoro os primeiros 200km em quatro horas e desço a montanha até Miandrivazo. Sim 200kms em 4 horas é uma boa média nestas estradas! 
É aqui que fica a estação onde se costumam apanhar as pirogas. Enquanto provo um peixe do rio grelhado (feio como tudo, mas saboroso..) tento mais uma vez uma piroga baratinha mas continuo sem sorte. 



Sigo para sul acompanhando os braços do rio, vales enormes e abertos com as montanhas ao fundo. Aqui em baixo o calor aperta, devem estar perto dos 40 graus e parado não se aguenta. Conforme vou avançando vão diminuindo as povoaçoes, a paisagem fica menos rural, com palmeiras de aspecto estranho e pântanos a perder de vista. O sol já começa a ficar dourado quando vejo primeiro baobab ao longe. Não estava previsto para hoje mas talvez consiga chegar à Allée des Baobab a tempo do pôr do sol. 



E cheguei! Foi lá que conheci a Keiro, a japonesa que queria ver o meu baobab... ou melhor, que queria mostrar-me o baobab dela... não! O que ela queria dizer mesmo, era que eu tirasse um fotografia dela com a t-shirt de Baobab junto à moto. Mentes sujas!!



Ah é verdade, desculpem lá se os posts têm erros ortográficos ou gralhas mas eu faço isto no telemóvel antes de dormir e além de já estar com um olho para cada lado, não é facil escrever tanto nesta coisa tão pequenina. Não trago computador nem ipad, o telefone é a coisa mais tecnológica com que viajo e nem sempre tenho muita vontade de rever os textos, por isso vai mesmo assim :) 

Show me your baobab!

Posted by : Carlos Azevedo
segunda-feira, abril 30, 2018
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Foi assim que a chamou Diogo Fernandes Pereira, o primeiro europeu a pisar as Maurícias em 1507. O marinheiro português não se demorou muito, fez um forte, colocou-a no mapa e seguiu caminho... um pouco como eu vou fazer 500 anos depois.

A ilha foi depois ocupada por holandeses, franceses e ingleses até conseguir a independência em 68. Toda a gente sabe que nenhum povo europeu gosta muito de vergar a mola, então todas estas nações colonizadoras trouxeram nativos das suas outras colónias para produzir a cana do açúcar que até hoje forra mais de metade da Ilha. O resultado desta mistura de escravos é um povo multi-cultural, multi-religioso, multi-étnico e multi-ligue que trouxe influência da Europa, Indonésia, Malásia, India e Africa continental.



Até hoje ainda não decidiram se a língua oficial é inglês  ou francês. Na indecisão acabam por sair a ganhar porque fazem parte da Commonwealth e da O.I Francófona... não são nada parvos! Quem me contou isto tudo foi o Michel que é o campeão de dominó e com o qual tive o prazer de perder, depois do primeiro mergulho no Indico.



Cheguei cedo, o quarto da guestshouse que reservei antes de embarcar ainda não está pronto. Não faz mal! Com este mar não preciso de quarto tão depressa :)



O recife em frente à guest-house surpreendeu-me, está saudável e cheio de peixe. Passo uma hora na água deslumbrado com a variedade de corais e os sempre coloridos peixes do Indico. Reenergizado volto a terra e parto a pé em busca de uma moto. Não tenho sorte, está tudo alugado, scooters, motos e carros, só sobraram bicicletas.



É numa delas que parto à descoberta da Blue Bay, uma enorme baía turquesa protegida por um recife ao largo, que refreia o ímpeto das ondas do Indico. As pedaladas não duram muito, a estrada termina nas pistas de areia fofa da reserva natural que delimita a baía. Volto para a praia onde compro umas frutas para almoçar. Ao meu lado duas francesas fazem o mesmo, meto conversa e pergunto se não querem partilhar um taxi para ir conhecer as montanhas. Não tenho sorte, é o ultimo dia delas e preferem ficar a torrar na praia.



Eu não sou muito de ficar a torrar, procuro um passeio de barco mas só há para os recifes ali perto e para chegar a esses não preciso de barco, vou a nado. Há outros para uma reserva marítima numa ilhota de coral mas sozinho é muito caro, o mesmo acontece com o taxi que custa 100 euros para uma volta pelas montanhas. Puxo da arte de comerciante que o meu pai me ensinou e consigo que baixe até 50 euros, bora!



A maior parte das paragens turísticas são daquelas de encher chouriços, templos Indus, miradouros para a foto postal e mercados de souvenirs chineses sem grande interesse. No topo da montanha as coisas mudam. Floresta tropical luxuriante estende-se por picos e vales profundos. Cascatas altas precipitam-se para o abismo, iluminadas por um sol forte que ainda consegue furar as nuvens cada vez mais negras. Afinal parece que a ilha tem mais interesse alem das praias e dos recifes.



Faço uma caminhada de uma hora mas soube a pouco, quanto mais avanço mais interessante fica, vejo macacos, mais cascatas e finalmente a grande Black River Gorge em toda a sua impressionante dimensão. Estou no ponto mais alto da ilha. 



Mas foi literalmente sol de pouca dura, as nuvens adensam-se, o céu fica negro e começa a chover torrencialmente. Típico dos trópicos penso eu. Gosto de ver a chuva forte tropical, é uma demonstração de natureza impressionante. Os coqueiros agarram-se com unhas e dentes para não serem arrancados pelas violentas rajadas, os recifes ao largo seguram as ondas gigantes enquanto a baía mantém as suas cores mas agora com aguas opacas e leitosas.



Afinal é mesmo um ciclone e chama-se Fakir. Passou na ilha de Reunião onde parece que fez estragos e segue agora para a parte norte das Maurícias. Eu tenho voo marcado e sigo para o aeroporto, provavelmente não há voos mas só lá consigo noticias. O voo foi mesmo cancelado junto com todos os previstos para aquela manhã, dizem que talvez de noite ou amanhã... não tenho pressa, logo se vê.

A Ilha do Cirne

Posted by : Carlos Azevedo
sexta-feira, abril 27, 2018
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Londres sempre foi uma caixinha de surpresas e desta vez não foi diferente. Afinal não é todos os dias que se acaba num quarto com 5 mulheres, uma das quais profissional de dança no varão...



Mas calma, nada de confusões! Tudo começou porque marquei uma cama num hostel em vez de um quarto num hotel. Os hostels são sempre bons locais para conhecer pessoas e uma excelente opção quando se viaja sozinho. Além de muito mais baratos servem bem o propósito de quem quer só uma cama confortável para dormir depois de passar o dia a viajar ou a explorar uma cidade.
Não esperava é me me colocassem num quarto misto. Não me estou a queixar, foi até bem mais agradável do que partilhar o quarto com backpackers que só tomam banho quando a rainha faz anos... e hoje, coincidência das coincidências a rainha faz mesmo anos. 92 mais precisamente.



Em resultado disso a cidade esta um caos, centenas de policias armados, barreiras anti veículos e ruas cortadas deixam bem claro que Londres não esqueceu os atentados recentes. Alem do aniversário da rainha também acontece a maratona de Londres e se umas ruas não estão cortadas por uma razão, as restantes estão pela outra.

Eu cheguei cedo, dei uma espreitadela à Tate, visitei umas lojas de fotografia velhas conhecidas na Oxford, almocei uns morangos no Hyde Park e tinha planos de visitar a Royal Geographical Society antes de chegar ao hostel. Este é daqueles lugares que não faz parte dos roteiros turisticos habituais, mas daqui partiram exploradores notáveis como DarwinLivingstoneStanleyScottShackletonHunt e Edmund Hillary.



Está um dia estranhamente solarengo para Londres, nem uma nuvem no céu e 22 graus que me castigaram enquanto pedalei estas voltas todas numa daquelas bicicletas de aluguer com a mochila às costas. Preciso de um banho... afinal de contas a rainha faz anos :)

Chego finalmente ao hostal e enquanto me preparo para o duche oiço um barulho e reparo que não estou sozinho no quarto. A Anitta, uma simpática e cansada moça húngara, descansa no topo de um treliche depois de um dia a caminhar por toda a cidade. Quando volto do duche a coitada da Anitta já dorme.



Eu saio para jantar no famoso Ace Café nos arrabaldes da segunda circular lá da zona.
O famoso Ace Café ainda tem aquela energia dos anos 40 e 60 quando era o ponto de encontro dos motociclistas rockers e racers de Londres. Vale a pena ficar a conhecer a historia deste marco motociclistico, mas não vão com excesso de expectativas :) O espaço é muito semelhante a um tipico café americano vintage com alguns toques british. Grande parte da comida é fast food. Comida boa, saborosa, caseira, mas fast food. Já a cerveja é grande, consistente e lenta...como deve ser uma Guiness no ponto :)



Uma loja de merchandising ajuda a fazer crescer a marca Ace Cafe que ja tem lojas em Orlando, Barcelona e... Pequim. Enfim é daqueles lugares icónicos que temos de visitar, mas uma vez deve chegar. Oxalá nao se torne uma espécie de Hard Rock Cafe e perca a alma que o tornou conhecido.



Volto para o hostal e o quarto ja está cheio, nao de gente mas de roupas, sapatos e maquiagem de duas teenagers inglesas que pelos vistos usam o hostal como camarim para as sua saidas de sabado à noite. Desço novamente, as miúdas precisam de privacidade e eu nao tenho sono. Na suposta sala de convicio do hostal ninguem convive... está todo agarrado ao Netflix que passa numa tela gigante. Isto dos hostels está mesmo mudado! Felizmente ao lado do hostal fica o Bar 190, um conhecido point onde vários musicos britanicos conviviam e muito nos loucos anos 60. Entre eles os jovens Rolling Stones que aqui apresentaram o seu album Beggars Banquet em 68. Termino a primeira noite da viagem a beber um gin no mesmo sofa onde o Sr Jagger e a sua gang devem ter tomado muitos. 



Sou o primeiro a acordar no quarto, dormi que nem um anjo e nem dei conta que entretanto chegaram mais vizinhos, 3 rapazes e 5 raparigas espalhados por beliches triplos. Fujo para o duche e preparo a mochila rapidamente para nao acordar ninguem. A Anitta aparece no pequeno almoço e simpaticamente faz-me companhia. Ficamos à conversa, é a sua primeira visita a Londres, trabalha como engenheira informática em Budapeste, é professora de pole dance e tambem tem voo as 6 da tarde como eu. Decidimos sair juntos e fugir para a outra margem do Tamisa onde não há maratona nem tanta confusão,  ela quer ir à torre de Londres e eu à Tate Modern e fica tudo a caminho. 



Foi um excelente dia, nem eu fui à Tate nem ela foi à Torre mas pedalámos imenso, conversámos mais ainda e desfrutámos do raro sol londrino num piquenique descontraido junto ao rio. Trocamos telefones e despedimo-nos com promessas de visitas a Budapeste e a Lisboa. 


Isto é uma  das coisas que as viagens tem de melhor, as amizades simples e desinteressadas que ganhamos pelo caminho. Foi um bom inicio de viagem, agora vamos lá enfrentar um voo de 12 horas...

A rainha faz anos.

Posted by : Carlos Azevedo
quinta-feira, abril 26, 2018
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