Umbigo do mundo

Segundo os Incas, Cusco é o umbigo do mundo. Para nós acabados de chegar "da selva" é uma cidade turistica, demasiado turistica, especialmente nos preços, mas se nos conseguirmos abster disso, é uma cidade agradavel e bonita. Chegámos ontem depois de mais 2 dias muito duros, a pista de Puerto Maldonado até Urcos está em obras, estao a construir a tal estrada do Pacifico e a pista antiga foi destruida pela construçao da nova. Dois pontos desta pista ficam mesmo cortados ao transito durante o dia, quem quiser passar terá de esperar pelas 6 da tarde para iniciar a sua viagem. Foi o que fomos obrigados a fazer, almoçamos tranquilos em Puerto Maldonado e arrancámos depois de almoço de forma a chegar ao ponto onde a pista estaria interrompida âs 18h, altura em que poderiamos passar. A tarde correu bem, a pista continua bonita e deliciosa, quase perfeita ao som de Ali FarkaToure, no entanto achei que seria boa ideia desligar o Ipod e passar a estar mais atento aos onibus que gostam de apontar â minha moto, acho que devia ter pintado a Floribela de camuflado. Chegámos ao ponto da pista interrompida pouco depois das 6, a unica baixa era um farol partido por uma pedrada dos meus amigos "pilotos" de onibus, jantámos o habitual "pollo" e avançamos pela noite dentro. Sabiamos que seria dificil subir de noite, que chuveu um pouco durante o dia, mas nada nos fazia imaginar as condiçoes desta pista. Desisti de contar os rios que atravessámos, alguns deles com uma corrente forte e todos com pedras redondas cheias de musgo, o transito continuo dos camióes das obras deixam atoleiros piores que os da trans-amasonica, as viseiras deixam de ser uteis naquela lama, está nevoeiro e os camionistas devem ter apostado entre eles qual mataria uma moto naquele dia. Acabámos por chegar ao nosso objectivo do dia, Quicemil,uma pequena aldeia mineira na base dos Andes. Os quilometros nao sao indicadores da distancia por aqui, as horas de viagem sim, 70 quilometros podem significar nuns locais 2 horas de viagem e noutros 4 horas. Em Quincemil encontrámos uma pequena hosteria que nos acolheu a todos (motos e condutores) dentro do mesmo quarto, estamos exaustos,a agua do duche é fria e com esta temperatura já nao apetece banho frio...fica para amanha.. O dia seguinte começou cedo, começamos a verdadeira subida, continuamos na floresta, acompanhamos um vale aberto por um rio cristalino, de um lado e do outro do vale jorram quedas de agua, a estrada está vazia, somos os unicos por aqui. A cada subida, a cada montanha a vegetaçao fica menos densa, mais baixa e menos verde,ganha tons de castanho,vermelho e quando percebemos estamos a 3000 metros de altitude. Paramos para tomar um chá de coca e iniciar a terapia das alturas mastigando mais do mesmo. O sabor nao é muito agradável mas aquilo funciona,pelomenos como diorético...tinhamos de parar de 5 em 5 quilomeros. Quanto mais avançamos mais camioes em sentido contrario apanhamos, a negociaçao nunca é facil mas entre o precipicio e ir em contramao nao temos duvidas, encostamos o maximo ao paredao da esquerda. Um deles empurrou-me para a valeta, fiquei naquela posiçao onde seguro a moto para nao cair mas nao a consigo levantar, mative o equilibrio um minuto mas nao aguentei mais e deitei-a suavemente conta o paredao. Tentei levantar a moto uma vez, nao consegui, tentei uma segunda vez... e vi tudo a rodar à minha volta,incluindo o André que tinha parado para me ajudar. Estamos a 4800mts e nesta altitude qualquer esforço nos deixa exautos, eu e o André depois desta manobra parecia que tinhamos levantado uma Goldwind. Passamos o ponto mais alto e começamos a descida, isto agora é facil, pensamos nós... Começamos a ver as primeiras Alpacas, os primeiros picos gelados, passamos algumas aldeias isoladas e aproveitamos para reforçar a roupa. Chegamos ao segundo ponto onde a pista fica cortada durante o dia, ainda sao 4 da tarde mas os policias deixam-nos passar depois de nos avisarem das maquinas a trabalhar mais abaixo. Encontramos as maquinas numa pequena aldeia transformada em estaleiro, maquinas furam, transportam e escavam terra por todos os lados, todo menos um, o campo de futebol da aldeia está em verdadeira festa com um torneio de futebol feminino,as meninas estao com roupas tipicas (saias rodadas e chapeu colorido) e é assim mesmo que jogam. Encontramos alguns pedaços de alcatrao mas sao pequenas amostras do que vai ser esta estrada, voltamos ao inferno das obras, à lama dos camioes, ao transito caotico de maquinas de obras. Este inferno dura até ao por do sol, a temperatura desce brutalmente, deixamos de ver a lama e só vemos fumo diesel e poeira, perdemos-nos uns dos outros na confusao de caminhos e maquinas a trabalhar. Paro para ver se encontro os outros e sou presenteado com os ultimos raios de sol do dia, tiro a ultima foto, arrumo a maquina visto mais roupa, está um vento gelado vou procurar um lugar mais abrigado para espera por eles. Estava eu a pensar isto e aparece o André, o Cesar e o Casimiro de outro lado....parece que há varias alternativas para subir a ultima montanha antes de descer para Cusco. O GPS indica 12 kms em linha reta para Cusco, em vez disso descemos 60 kms por uma pista fugindo a cada curva de mais um camiao. A descida foi interminável, Cusco aparece ao fundo como se fosse um monte de brasas numa noite escura, parece que estamos num aviao a olhar para as luses de uma cidade muito lá em baixo... E continua...continua....e continua... lembro-me de o Douglas ter dito que desde que começamos a ver Cusco demoramos umas 3 ou 4 horas até chegar. Parei na entrada da estrada asfaltada à espera dos outros, chegam todos menos o Teles, o Policia que está no local disse que já passou uma moto azul,seguimos até à proxima cidade. Nada de Teles, jantámos e continuamos à espera, resolvemos dormir por ali e esperar noticias dele. Dormimos no andar de cima do restaurante e as motos dormiram na sala do proprio restaurante, o Teles finalmente deu noticias, estava gelado e só parou em Cusco, optimo, assim domimos todos mais tranquilos. Hoje viemos ao encontro do Teles e passámos o dia em Cusco, as motos tiveram direito a uma revisao, a Floribela levou rolamentos todos novos, as Teneres foram soldadas e levaram pastilhas de travoes recicladas, foram mimadas pelo Richard, o mecanico de confiança do Alex Luna,um amigo que o Douglas nos recomendou. Entretanto tb recebi uma mensagem do Silvio Ventura dizendo que já tinha as caixas para o reenvio das motos para Portugal, realmente quem tem amigos tem tudo!!! Obrigado pessoal!! Amanha cedinho vamos para Machu Picchu e vamos passar todo o dia lá, depois conto como foi...

Comentários

  1. Parece que a aventura está a correr muito bem. Ainda bem que se estão a divertir!
    Façam umas fogueirinhas, bebam uns canecos que o friozinho passa :) :)

    Aquele abraço
    Francisco Fernandes
    www.Rituais.com

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  2. Grande escrito, grandes aventuras, grendes fotos!! Recebi o SMS do Macho Pixo :) obrigado por se lembrarem do rapaz que ficou cá a lutar pela vida :). Enorme abraço - tenho saudades vossas.

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  3. Dá-lhe mano!!!

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  4. Não dá... com fotos destas não estou a aguentar a depressão. Vou-me desempregar e fugir ter convosco!

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  5. Hi y Saludos,

    My son Luke and I made the same trip (Cuzco to Porto Velho and then south) on Honda 250s only 3 days later! He turned 17 in Cuzco on the 29th of June and we left two days later. We also had to wait near Quincemil for the road construction, then head out through the night where my son had an accident in the dark and fell from a bridge.
    Favor d responder en ingles o espanol... mi portuges nos es bueno..

    Toby

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