Entre os vulcões da Nicaragua.

Entrei na famosa PanAmericana, a grande estrada que atravessa as 3 américas. Grande só mesmo em comprimento, é chata, passa longe da maioria das atracções e tem um trafico permanente e intenso de camiões. Alem disso é perigosa e sem grande interesse paisagístico. Mas em alguma partes é a única por isso vou ter que gramar com ela até à Costa Rica. Quando chego à fronteira tenho um dejà vu, uma KLR igual à "minha" com alforges iguais aos meus e um saco na traseira. É a Raimunda!! Montado nela vem o Mihai, um Romeno de sorriso aberto que está a ser ajudado por um assistente de aduana O assistente diz que tb trata dos meus papeis, já sei que vou ter de largar uns dólares mas não me apetece nada andar a tirar fotocopias de guiché em guiché com este calor. Alguns camiões da fronteira tem uma opinião semelhante à minha sobre a burocracia das Honduras. O Mihai teve a mesma ideia que eu, comprou uma KLR 650 velhinha nos Estados Unidos e há 7 meses que vem a descer desde Nova York. O nosso assitente de aduana volta com ar fatigado e com noticias de complicações. Juntámos um Romeno, com moto americana que fala espanhol e um português com moto mexicana que pensa que fala espanhol no mesmo embrulho e a aduana está a entrar em colapso burocrático por causa de nos, até ja deve ter acabado o toner das fotocopiadoras. Fico mais descansando quando o guarda me diz que comigo esta tudo bem, o Mihai é que não tem o registo de propriedade da moto, tem outro documento valido nos EUA mas que aqui não vale nada. Meteu a moto em seu nome mas demorava a chegar o registo de propriedade e por isso trouxe o provisório. Eu trago o meu valioso "poder" com lhe chamam os guardas, uma escritura reconhecida em notário pelo proprietário da moto garantindo-me autoridade para viajar com a moto e ate agora tenho-me safado. 3 horas depois recebemos finalmente ordem de marcha, o Mihai ficou mais leve 40USD por causa da sua situação e eu acabei por o safar que ele não tinha dinheiro suficiente. Caiu a noite e seguimos juntos até a cidade mais próxima. No dia seguinte a nossa rota é semelhante, por isso Raimunda e Maria, ou melhor Mihai e eu, ultrapassamos mais uma fronteira e almoçamos numa das pérolas coloniais da Nicarágua, Leon. Degustamos um café expresso enquanto assistimos à calma que reina nesta bela praça central de Leon Alem de motos parecidas temos gostos comuns, também ele prefere os locais menos turísticos e as rotas menos movimentadas. Chegamos a Granada, a outra bela cidade colonial e descobrimos um hostal fantástico bem no centro. Durante as minhas viagens já estacionei em lobbies de hostais, em restaurantes, em escadarias e em recepçoes mas nunca tinha encontrado um onde fosse possível estacionar dentro do quarto. O sol ainda aquece as paredes coloridas da cidade de maneira que desfrutamos da sempre bela luz com que termina o dia. Ao jantar saímos para a zona menos turística, a mais autentica e barata da cidade. Passa pouco das 8 da noite e ja esta tudo fechado, restaurantes só no lado dos gringos. Nas nossas pesquisas conhecemos a D. Ana Joo uma senhora que tem uma banca na rua e se prontifica a nos fazer o jantar. Um frango delicioso servido na sua própria casa, numa sala que já foi hospital no seculo XIX. No dia seguinte percorremos a cidade sem pressas, apesar de turística não perdeu o seu carácter e a vida local segue sem pressas, sem stress e sem demasiados gringos. As águas do lago Nicarágua banham a cidade e ao fundo um vulcão espreita ameaçador por entre as nuvens. Aliás vulcões por estes lados não faltam, desde El Salvador que as estradas serpenteiam entre cones perfeitos rodeados por floresta. Alguns soltam fumo, outros limitam-se a ornamentar o horizonte repleto de terras férteis bem aproveitadas pelos locais. As nossas rotas separam-se poucos quilómetros depois de Granada, o Mihai vai para a ilha Ometepe e daí para Sao Carlos onde vai procurar uma canoa que o leve até à Costa Rica. Eu, apesar de me agradar muito a sua rota e de ser conhecida a minha tara por meter motos em canoas, estou mais limitado de tempo, por isso vou continuar pela costa e dar um mergulho no Pacifico antes de seguir para a Costa Rica. Talvez nos voltemos a encontrar Mihai, boa viagem e aproveita os próximos meses!

Comentários

  1. Grande Carlos,

    Um Abraço! Estou contigo!

    Fernando Zuzarte Reis

    "...Invejo sorte que é tua, porque nem sorte se chama..." Fernando Pessoa

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  2. Olá Portuga, estou aqui a acompanhar mais uma invejável viagem, boa sorte.

    Gostei do Hostel INDOOR.

    Abraços Tupiniquim

    Silvio Ventura
    Brasil - SP.

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  3. Delicia de relato :)))
    LD

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  4. Excelente relato como habitualmente. Boa continuação companheiro!
    André

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  5. Oy Carlos! Boa viagem y espero verte pronto en alguna aventura o otra! Voy a seguirte para ver como te va hasta Caracas. Yo estoy esperando el ferry para salir de Ometepe. Buen sitio, te esta esperando para otra ocasión.

    Um abraço!

    Mihai

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