Archive for 2011

Uma expressão muito utilizada no Brasil e que se aplica que nem ginjas à valente lady... ... que depois de um banho, uma revisão e pneus novinhos ficou pronta para outra! O vadio à semelhança da moto também precisava de um bom banho e de uma "revisão geral"... para perder o aspecto africano e voltar pronto para enfrentar a austeridade portuguesa :) O ultimo dia foi bem aproveitado, dedicado inteiramente à Cidade do Cabo e ao seu ícone, a Table Mountain. Uma caminhada levou-me ao cimo deste calhau imenso, são mais de mil metros de altitude bem na beira do mar que nos dão uma perspectiva impressionante da cidade e da península do Cabo. Cheguei cedo e tive a oportunidade de apreciar a energia da montanha com pouca gente, perto da hora de almoço, já depois de ter explorado todos os trilhos, desci pelo teleférico de volta à cidade. Não fiz um roteiro turístico, não fui à Robben Island nem aos famosos aquários da cidade, limitei-me a passear pela conhecida Victoria & Alfred Waterfront Uma zona portuária tipicamente inglesa, repleta de tourist traps que enchem o passeio marítimo com todo o tipo de actividades possíveis e imaginárias. De passeio de helicóptero a mergulhos em submarino há por aqui muita coisa para esvaziar os bolsos dos turistas. Os meus já estão tão vazios que já abriram buraco, fujo para uma zona menos movimentada e procuro lojas em saldo para renovar o meu guarda roupa e enfrentar os 4 graus que me esperam em Londres. Meia hora foi o que bastou para ficar vestido dos pés à cabeça, calças, boxers, meias, uma t-shirt e até um casaco quentinho para resistir às 12 horas do voo de regresso. Viajar nesta altura de festas é porreiro, anda tudo com o Natal e as festas na cabeça e nada funciona, dá para ter algum espaço e lentamente voltar à rotina. É difícil, claro que é, mas não tanto como pode parecer, afinal de contas... Bom Natal a todos!

Lavou, tá nova!!

Posted by : Carlos Azevedo
sexta-feira, dezembro 23, 2011
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Afinal o tenebroso cabo das Tormentas não é assim tão assustador, pelo menos quando visto desde terra num belo dia de sol. Quem diria que praias de areia branca e aguas turquesa envolvem um dos pontos mais famosos da navegação mundial. Com os dias grandes do verão austral consegui poupar algum tempo, tempo que quero gastar agora desfrutando calmamente o fim deste continente magnifico. Começo pelo cabo Agulhas onde as aguas do Indico se encontram com as do Atlântico no ponto mais sul de África. Aqui, onde as quentes águas da corrente de Agulhas dá de caras com a rica e fria água que vem com a corrente de Benguela é o local ideal para dar umas braçadas. Já mergulhei no Indico e no Atlântico, mas esta foi a primeira vez que o fiz nos dois ao mesmo tempo :) Não muito longe do Cabo Agulhas fica Gansbaai, a capital sul africana do mergulho com os grandes tubarões brancos, algo que quero fazer já há alguns anos. É aqui que fica a famosa Dyer Island, onde uma grande colónia de focas serve um banquete diário à maior concentração de tubarões brancos do planeta. Isto de viajar de moto sem nada marcado às vezes tem os seus inconvenientes e por pouco não fiquei em terra, todo os operadores já estão cheios para o dia seguinte. A custo consigo um lugar no mergulho das 11 da manhã, gostaria de ir mais cedo mas não há lugar. Aproveito a manhã para umas braçadas na baía e uma caminhada pela pacata cidade piscatória. Visito todos os operadores mas um em especial chama a minha atenção, não apenas pela simpatia com que sou recebido mas principalmente pelo profissionalismo e genuína paixão que têm pelo que fazem. Enquanto saboreio um café e converso com o Mike vou espreitando um documentário que passa no plasma da loja. O Mike com que estou a falar é afinal Mike Rutzen, o lendário investigador que nada com os grandes brancos e participa regularmente em documentários da BBC, National Geografic e Discovery Channel. Com uma simpatia e simplicidade fantástica perde ali tempo comigo conversando sobre estas fantásticas criaturas enquanto me mostra no telescópico alguns grandes tubarões patrulhando as aguas da Dyer Island. Quando lhe falo da empresa com a qual vou mergulhar não deixa de ser simpático, "They are ok, nice guys" Na verdade a pressa é sempre inimiga da perfeição e se pudesse ter escolhido com mais tempo não teria duvida em escolher a empresa de Mike para ter esta experiência. Não que se veja mais tubarões nesta do que noutras, mas como em tudo quanto mais know how tiver quem nos leva torna melhor e mais enriquecedora será a nossa experiência. É precisamente por estas e por outras que na maioria das vezes é preferível pagar um pouco mais por um serviço bom, do que menos por um serviço "normal" Gostei do mergulho, servi de isco para 4 great whites dentro de uma jaula submersa e assisti do deck enquanto eles rodeavam o barco atacando as cabeças de atum atadas ao seu redor. Foi bom, afinal não é todos os dias que estamos a centímetros de um animal destes, mas poderia ter sido melhor... quando lá voltar vou com o Mike! Regressado a terra descobri que já não tinha espaço no mesmo hostel e teria de procurar outro. Em vez disso voltei à estrada e novamente com o sol a dourar o caminho segui pela costa a caminho de CapeTown. O hostal está cheio com 3 camiões overlanders, não há lugar para mim e eu estou com pouca paciência para procurar outro no meio da cidade. Decido aproveitar a oferta do David e Angela e sigo para casa deles onde sou extraordinariamente bem recebido com um churrasco no jardim. No dia seguinte junta-se a nós o Simon e a sua F650GS Dakar. O Simon é proprietário de uma empresa de safaris que opera da África do Sul até ao Quénia e alem de muito simpático vai ser provavelmente parceiro da MotoXplorers num futuro bastante próximo. Juntos percorremos todas as estradinhas da península, fomos a Cape Point, atravessámos a reserva do Cape of Good Hope, visitámos os padrões portugueses espalhados pela costa e terminámos a manhã na sombra de um enorme jacarandá a saborear uns calamares deliciosos. As estradas são inacreditáveis, bordando as colinas da Table Mountain e ligando uma sucessão de baías e praias de areia branca e aguas turquesa. A Chapman's Peak Drive é considerada uma das mais espectaculares estradas costeiras de todo o Mundo, e eu concordo! É engraçado como os Sul Africanos são tão diferentes das suas origens anglo-saxónicas. O sol e as belas paisagens devem ter provocado uma erosão natural na típica rigidez e frieza britânica. Sorriem, desfrutam a natureza e o sol de um forma descomprometida e simples. É como se tivessem levado uma injecção de sangue latino, são calorosos, atenciosos, relaxados... felizes! O David e a Angela são assim mesmo, dão valor ao local magnifico onde vivem, desfrutam-nos e agora partilham-no comigo, obrigado amigos!

Tormentas no Cabo da Boa Esperança.

Posted by : Carlos Azevedo
quarta-feira, dezembro 21, 2011
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O chão da pista brilha com o sol rasteiro, não serão certamente diamantes mas não deixa de ser estranho pisar um chão “estrelado” no meio deste deserto. Sigo pela pista a Leste da zona dos diamantes, entre um planalto ressequido que se estende até ao mar e monólitos de calhau enormes que me indicam o caminho para sul. São o inicio do Fish River Canyon, o cartão postal do sul da Namíbia. Um desfiladeiro gigante que se estende por largos quilómetros até se juntar ao Orange River, o rio que faz de fronteira natural com a África do Sul. A luz não ajuda, está de frente e não me deixa tirar fotografias que consigam dar uma percepção da dimensão desta enorme falha criada por milhares de anos de erosão. Há por aqui uma caminhada de 5 dias e 4 noites que desce pelo meio do Canyon até Ai Ais um oásis alimentado por aguas geotermais que aquecem o Fish River. Este lugar, descoberto por pastores Nama à vários séculos atrás alberga agora uma requintada resort com piscinas termais, paredes meias com inscrições rupestres nas paredes do canyon. Eu não tenho tempo para a caminhada e em vez de 5 dias demoro 3 horas a descer pela margem do canyon por pistas de areia e gravilha, douradas pelo sol que já se quer ir embora. A paisagem toma formas estranhas, alienigenas, salpicada com estranhas árvores de aloé que parecem saídas do período jurássico. Chego mais uma vez com o ultimo raio de sol, tenho aproveitado todos do dia, das 5h30 da manha até às 18h30 não deixo fugir um só raio do astro rei. Entre acampar por $12 ou dormir num quarto por $34 escolho a segunda opção, não me apetece montar a tenda e um bom pequeno almoço buffet é sempre um bom investimento. Retemperado por um mergulho matinal nas piscinas geotermais e um grande pequeno almoço, continuo o meu caminho na direcção da fronteira da África do Sul. Não levo grandes planos de onde ficar nesta noite, se me agradar fico, se não me chamar a atenção sigo. Paro para por gasolina no primeiro posto sul africano e fico intrigado com uma bandeira portuguesa. Entro na loja do posto e deparo com um plasma a emitir o Natal dos Hospitais. Quem me recebe é o Sr Manuel, um madeirense sportinguista com uma simpatia extraordinária que insiste em que almoce por ali, apesar de serem ainda 11 da manha. Não me deixa dizer que não e em pouco mais de 10 minutos tenho um bifão na minha frente acompanhado por uma garrafa de vinho. Insiste para que fique ali umas semanas, “Não paga nada” diz ele, “vai comigo a Port Nolloth ver a exploração de diamantes, dorme come e bebe e não gasta um tostão. A verdade é que bem que gostaria de ter mais uns dias para ficar aqui com o Sr Manual, ele é daqueles amigos instantâneos que encontramos nas viagens, a sua pureza e energia positiva fazem-nos sentir genuinamente bem vindos e muito confortáveis. Despeço-me com pena deste madeirense de bom coração e volto à estrada. Nada muda, durante mais 300 kms na estrada que atravessa a região dos diamantes sul africana, deserto e mais deserto. O asfalto cansa muito, muito mais do que as estradas de terra, especialmente estradas monótonas como estas onde curvas largas interrompem rectas com muitos quilómetros. Ao fim de algumas horas surgem finalmente montanhas, água e uma côr verde vibrante. São vinhas, enormes e viçosas vinhas alimentadas por um engenhoso sistema de canais de agua que fazem chegar vida a este lugar seco. Num dejá vú estranho reconheço Trás dos Montes nesta paisagem, um chão pedregoso e áspero, uma temperatura amena mas seca e agua com fartura. Sem duvida uma boa receita para vinho de qualidade! Começa aqui o Cederberg Widerness Area, um lugar habitado por babuínos e leopardos que partilham grandes montanhas de pedra. Estou definitivamente cansado do monótono asfalto e sem grandes planos desenho um azimute mental daqui até ao ponto mais sul de África, Cabo Agulhas. Seguir esse azimute implica sair definitivamente das estradas principais e ir explorando o interior montanhoso. Foi uma boa escolha, uma pista de terra fluí durante uns 200kms por vales enormes rodeados por grandes picos. Parece que estou nos Pirenéus em plena primavera, com o sol pelas costas e uma brisa fresca a entrar pelo casaco... sem pressas vou saboreando cada vale, cada passo de montanha. Chego ao Oásis Cederberg, um pequeno hostal que mesmo não aparecendo nos guias me foi muito recomendado por vários viajantes com que me fui cruzando. O lugar ficou famoso pelo seu grande bife e pela hospitalidade de Gerrit o seu proprietário, alem disso fica no meio de uma pista magnifica que cruza todo o parque natural. Assim que paro confirmo a sua fama, Gerrit vem ao meu encontro e mesmo sem ter ainda saído da moto já tenho janta marcada e quarto pronto. Estão lá o David e a Angela com duas KLR que me confirmam que estou a meio de um dos roteiros mais apreciados pelos motociclistas Sul Africanos. Termino mais um dia na conversa com este simpático casal de Cape Town. É impressionante como energias semelhantes aproximam imediatamente as pessoas, sem hesitações e apenas passado alguns minutos de conversa eles convidam um barbudo desconhecido e empoeirado a para ficar em sua casa em Cape Town. Mas antes tenho de ir ainda a Cape Agulhas, vou deixar-me fluir pelas estradinhas do interior até ao ponto mais a Sul de toda a África e ver onde o Atlântico se junta ao Pacifico.

Fluindo pelas montanhas Sul Africanas

Posted by : Carlos Azevedo 2 Comments
Está uma lua enorme, um planeta branco que ilumina o deserto do Namib como se fosse o foco de luz. Nos últimos dias fiz qualquer coisa como 1000 de estradas de terra, desde a Reserva de Etosha que nunca mais sai delas. Na maioria são boas e permitem velocidades alucinantes, mas em alguns trechos longos são traiçoeiras, com pedras grandes e areia fofa, camufladas pela falta de contraste do meio do dia. Tenho de me lembrar que estou sozinho e que se cair e me aleijar deve demorar um bom bocado a vir ajuda. Além há muito pouco transito nestas estradas secundárias, hoje devo ter passado por uns 4 carros durante todo o dia. O frio apanhou-me de surpresa, quando cheguei perto da costa, uma capa de nuvens baixas forra o ceu. A temperatura caiu muito e tive mesmo de parar e sacar o forro do fundo do Giant Loop. `A noite o saco cama tem de estar bem fechado para passar bem. Aproveitei a passagem por Swakopmund para dar uns mimos à Lady. Não quis dizer nada para não agoirar mas a corrente está nas ultimas. Ainda é a de origem e tem 20.000kms no pêlo, sofreu mais ainda porque não encontrei oleo de corrente em nenhum lugar que passei, tem andado lubrificada com oleo de motor, algo que com estas temperaturas é o mesmo que nada. Esgotei a afinação na Zambia e deste então tenho vindo a rezar para ela não dar o berro e deixar-me no meio de nenhuns. Agora levou uma RK de enduro nova em folha, bem mais resistente e duradoura que a antiga. Continuo a descer, hoje foram mais 600kms de TT até chegar a Sossusvlei, o coração do deserto da Namibia. Nami traduzido toscamente quer dizer “Terra seca” e nada poderia ser mais adequado a este território inóspito. Não fossem os diamantes e o petroleo e este seria um país muito pobre. Mas não é, tem uma riquesa natural incomensurável e não me refiro a diamantes. A sua paisagem é uma mistura de Mauritania com Patagônia e Islandia. Tem as dunas do primeiro, a dimensão do segundo e a estradas de terra do terceiro. Por falar em dunas, é aqui mesmo que estão as mais altas do Mundo. Enormes, como montanhas de areia que fariam corar de vergonha o Erg Chebbi. Mas nem tudo é bom, a Namibia é um país organizado e tem regras rígidas nos seus parques naturais, uma das mais recentes é a proibição de entrada de motos. Dizem os guardas que demasiados motociclistas Sul Africanos abusaram e agora resolveram cortar o mal pela raiz. Do acampamento mais proximo até as dunas maiores são 70 kms e se não posso ir de moto tenho de ir de outro modo qualquer. Consigo boleia graças à grande ajuda de David, um Sul Africano que conta horrores da Estradas para Sul. Viaja tambem só mas muito carregado numa F650 Dakar e está pouco habituado a gravel roads em tão mau estado. Diz que veio o dia inteiro a 60kmh e está todo partido, pudera a 60 deve sentir todas as irregularidades, lombas e buracos da estrada. Eu desde que troquei a corrente e deixei de sentir os estalos dos elos gripados tenho “rancado fogo” da Lady... a pista pede e desta vez o barulho do escape até dá alguma motivação extra :) não reparei em buracos nem pedras e muito menos areia nas pistas até aqui :)))) Vou com 4 alemaes, aliás, um alemão e três alemoas. São professores aqui na Namibia e tiraram uns dias para visitar o deserto e perante o meu enrrascanço decidiram apertar-se um pouco e levar mais um. Combinamos às 5 no portão do parque, tempo suficiente para ver o nascer do sol da duna 45, mas esta deve ter sido das poucas vezes que um tuga foi mais pontual que os rigorosos germanicos :) só saímos às 5h15. Subimos a Duna 45, depois a Big Daddy, visitamos os pans de Sossusvlei e terminámos uma amanhã cansativa em Dead Vlei, um local inacreditável. Árvores mortas, seca, ressequidas, jazem hirtas num plano branco quase imaculado, tudo isto roedado por dunas vermelhas ocre enormes. Parece que entrámos num anfiteatro onde passa uma peça dramática, ou uma catedral onde se reza uma missa em alma das arvores defuntas, o facto é que todos sem dizermos nada uns aos outros falamos baixinho, sussuramos uns com os outros sem perceber bem porquê. O silencio é assustador, não há passaros, insectos, nada, apenas arvores negras que parecem gritar esganiçadas em busca de ajuda. É um lugar único, uma instalação artística da mãe natureza... quase como a vista da minha tenda esta noite Agora estou aqui no bar do base camp, carregando as baterias das cameras e as minhas com uma cerveja gelada. Hoje vou para a cama cedinho que o dia começou às 4 da matina e amanha tenho mais 600K de pistas...

Lua cheia no deserto da Namibia

Posted by : Carlos Azevedo
sexta-feira, dezembro 16, 2011
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